sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ponto de Leitura com livro de Luzia Stocco... Imperdível!!!




A MENINA DO BAIRRO FRIA - Sonhos e desabrochar


A narradora aborda fatos pitorescos da sua infância no Bairro Fria, na região de Piracicaba-SP, e sobre o desabrochar como mulher com o êxodo da família à cidade, cuja atividade era o corte de cana.

O romance tem o condão de ligar as fases de uma mulher e sua relação com a sociedade, com as vivências dela e dos circundantes, na matriz caipira que se originou, em diálogos (a autora é atriz e professora de teatro) a palavra escrita segue como pronunciado pelo dialeto vigente na região. Estão presentes também as atividades próprias do campo de antanho, quando não havia toda a maquinaria de hoje ou outras benfeitorias como luz elétrica, água encanada, ou rede de esgoto; os banhos eram de bacia e o lazer eram as brincadeiras no riachinho ou na grama ou com as bonecas de milho. A primeira instrução era na escola da Usina. O ambiente é descrito de forma viva e as personagens emergem do inconsciente de quem realmente viveu na pele da menina do Bairro Fria.

Na sua vida adolescente a menina segue em confronto com a vida da cidade, percebendo aos poucos que existem geladeira e outros eletrodomésticos úteis, mas que ainda há entre as pessoas uma selva de pedra. Torna-se vendedora de bolsas personalizadas de porta em porta, faz muitos amigos e advêm histórias dessas peripécias sofridas e alegres, ao mesmo tempo; desta forma custeia o cursinho e o início da faculdade. Assim vai desbastando a nova realidade, aos poucos encontra outros amigos, ideais, busca, chora, ama e engravida de um mundo informe; sai da república e o casal começa nova vida. Nasce a filha. A relação não perdura. Tem alegrias e decepções, conquista e perda, mas não perde o sonho de ser feliz. Tem de continuar a vida e criar sozinha a menina. Sua luta se dá em várias frentes, não abre mão do estudo, da faculdade e do melhor para a criança. Forma-se professora, licenciada em História, professora de teatro e atriz do Grupo Andaime de Teatro. É uma estrela que brilha num lusco-fusco, tem de dividir-se em mil atividades, inclusive nas domésticas. A menina é mãe, sonha, interpreta e muitas vezes se sente desamparada. Como estudante faz das tripas o coração para pagar o curso universitário e se manter, custeando sua dura vida de estudante e mãe de família, depois professora estadual.

Ela mora alguns anos com a mãe e após vai morar a só com a filha, onde tem alguns móveis e... livros, muitos, aos quais lê para a menina. Nessa época, que confessa um dos melhores, ela e a filha, sem televisão por um ano. A relação com a família se dá sempre que possível.

Presença importante na vida da menina e no livro é a mãe Auda, separada do pai na cidade. O pai vendia doces de cesta e tocava gaita em programas de rádio e veio ver a filha e a neta algumas vezes, com alguns doces que vendia, como presente. Era pobre e instável emocionalmente, mas é possível “vê-lo” na infância da menina. A mãe Auda é fonte de força e convicção à menina que se agarra aos estudos e a seus princípios éticos; conforme a mãe que teve condição adversa e sobressaiu como exímia costureira e em todos os afazeres com capricho, vencendo a exaustão para prover o sustento da família.

Leitores, a obra de uma vida e não a contarei toda neste prefácio, mas sugiro que agucem os olhos.


Prefácio de Camilo Irineu Quartarollo







Os debatedores:



Ademir Barbosa Júnior (Dermes) é Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo, onde também se graduou em Letras. Professor, leciona desde 1991, com experiência do Ensino Fundamental à Pós-graduação. Autor de diversos trabalhos, com 13 livros publicados, com indicações como Prêmio Jabuti, Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional de Bibliotecas Escolares, é também autor de revistas especializadas nas áreas de Linguagens, Literatura, Redação, Biografias e Terapias Holísticas. Em Piracicaba, é Coordenador Cultural do “Projeto Tambores no Engenho”, desenvolvido pela Tenda de Umbanda Caboclo Pena Branca e Mãe Nossa Senhora Aparecida, responsável pela criação, pesquisa e encaminhamento do espetáculo “Águas da Oxum”, e idealizador e um dos coordenadores do Fórum Municipal das Religiões Afro-brasileiras.



Christina Aparecida Negro Silva é educadora, professora há mais de trinta anos, ministra cursos de pós-graduação de Leitura & Escrita na CEUNSP em Itu e em colégios particulares. Mestre em Educação pela UNIMEP, tem artigos sobre Educação publicados em revistas acadêmicas. Contadora de Histórias, publicou o livro "Histórias que amigos contam" em 2005, junto com também "contadores" desta Arte. Atualmente, atua como diretora da E. E. Profª. Catharina Casale Padovani e como professora de Leitura e Produção de Textos no Colégio Dom Bosco - Assunção em Piracicaba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário