quinta-feira, 31 de julho de 2014

PONTO ARTE GARAPA - PARTIR - Poemas de Fernando Pessoa - Interpretação R...

ROMUALDO SARCEDO ENCENA PARTIR NO GARAPA

“Um homem no momento limite de sua vida”. Com a simples frase, o ator e diretor Romualdo Sarcedo, 48, convida o público para a sua mais nova empreitada cênica, intitulada “Partir”. .

Estive em uma das apresentações e deixo minhas recomendações ao público piracicabano. Roma, como é conhecido no meio teatral, concedeu a entrevista abaixo, e detalha os passos para a construção do roteiro, texto, atuação. Para a próxima sexta-feira, 25, produzirei um artigo sobre a montagem, que será publicado neste blog e na página 2 do caderno Cultura do Jornal de Piracicaba.

Após assistir ao monólogo, notei uma similaridade com o poema Na véspera de não partir nunca, assinado por Álvaro de Campos? Sua inspiração veio dele?

Não. Embora seja mais um poema que se afina bem com o conteúdo do roteiro, não me inspirei neste. Aliás, não me inspirei em nenhum poema propriamente. Fui coletando e fazendo a amarração de acordo com a construção narrativa que desejava e ali, para cada momento deste turbilhão de emoções, encaixava algum poema que, na minha concepção, ilustrava as sensações da personagem.

Então quais foram os textos utilizados como subsídio para a montagem?

Estes foram os poemas que selecionei, alguns recortados, outros inteiros, para compor o roteiro. Eles foram se encaixando naturalmente na sequência que eu desejava. Você percebe que há um predomínio dos poemas de Álvaro de Campos, poeta que busca “sentir tudo de todas as maneiras”, indo para o decadentismo, o futurismo e o pessimismo. Entremeando estes sentimentos extremos, cinco poemas do heterônimo Ricardo Reis são mencionados nos momentos de busca pela tranquilidade da alma, pelos prazeres simples da vida, o domínio das paixões e a aceitação da fatalidade da condição humana.

Navegar é Preciso – Fernando pessoa
Tabacaria (trecho) – Álvaro de Campos
Poema em Linha Reta – Álvaro de Campos
Contudo – Álvaro de Campos
Quadras ao Gosto Popular (trecho) – Álvaro de Campos
Todas as cartas de amor são ridículas – Álvaro de Campos
Vem sentar-te comigo Lídia – Ricardo Reis
Sim – Ricardo Reis
Adiamento – Álvaro de Campos
Esta velha – Álvaro de Campos
Marinetti acadêmico – (trecho) – Álvaro de Campos
Ode Marítima – (trecho) – Álvaro de Campos
Grandes (trecho) – Álvaro de Campos
Afinal (trecho) – Álvaro de Campos
Para ser grande, sê inteiro – Ricardo Reis
Uns – Ricardo Reis
Segue o teu destino (trecho) – Ricardo Reis

Como surgiu a vontade em interpretar Fernando Pessoa?

Encontrei em seus poemas força dramatúrgica. Encontrei a possibilidade de aliar teatro, poesia e filosofia.

Qual foi o processo de pesquisa, quanto tempo durou até a estreia, enfim, qual foi a história por trás do espetáculo?

O processo vem de muito tempo… desejava criar um trabalho paralelo às demais produções da companhia, com um caráter mais despojado, intimista e que pudesse dialogar de maneira mais intensa com o ser humano, discutir a condição humana. Desejava criar um trabalho que pudesse colocar uma personagem numa situação limite… num momento em que já não é possível ficar e que, ao mesmo tempo, é preciso enfrentar o doloroso processo de partir… desejava que isso representasse uma metáfora para os mais variados significados dessa situação em que, em algum (ou em vários) momentos de nossas vidas, perdemos a zona de conforto ou somos impelidos a renunciar a ela, como única saída para uma nova vida, um renascimento, um romper de correntes, de amarras impostas ao longo do tempo.

Então, para isso inicialmente procurei escrever algo que não chegou a me agradar. Passei, então, a buscar outros textos, poemas de variados autores. Porém, já em 2013, quando debrucei um olhar mais atento sobre alguns poemas de Fernando Pessoa, percebi que ali encontrava profunda ressonância com este meu desejo. E foquei em sua obra, lendo tudo quanto pudesse.

Nesse processo comecei a destacar alguns poemas que me interessavam para o conflito que desejava expor. Não estabeleci prazos. Depois da costura inicial dos poemas selecionados, procurei absorvê-los calmamente, intensamente, sem pretensões. Até o início deste ano, ainda tinha dúvidas se realmente levaria isto ao palco, mas num determinado momento conclui que eu precisava fazer isto, precisava correr este risco… e fiz.

FONTE: http://dandonota.com/2014/07/22/parti...

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